sexta-feira, 7 de maio de 2010

Leitura de imagem: Fotografia Ethiopia de Sebastião Salgado

Ao nos depararmos com uma imagem tão impactante, imediatamente nos questionamos qual seria a real intensão do artista ao retatá-la.

Comumente o que buscamos em uma imagem e em obras de arte em geral é a tão famigerada beleza. Mas o que supostamente prende nosso olhar não é necessáriamente o que consideramos naturalmente bonito, mas a beleza subjetiva implicita na imagem.

A beleza está na sensibilidade extrema captada pelo autor ao retratar a sutileza dos detalhes, sentimentos e emoções que são percebidas em um único olhar.

A imagem é ao mesmo tempo agressiva e sensivel, suave e deprimente. Desperta sentimentos confusos e difusos.

Somos envolvidos pela tristeza nos olhos da mulher e arrebatados pela beleza que cerca esta obra, pelo ar de mistério e melâncolia, num misto de revolta e compadecimento pela humanidade.

Esta imagem, com toda sua simplicidade retrata o sofrimento de um povo, a luta pela vida, pela sobrevivência e pela esperança.

Além de toda dor percebida, a esperança também salta aos olhos, da imagem e aos nossos.

Alguém já disse certa vez que quem ama o feio, bonito lhe parece. No entanto não discutimos aqui padrões de beleza nem superficialidades. O conceito de beleza aqui representado é bem mais amplo e infinitamente complexo.

Platão acreditava que certas formas de arte eram uma imitação grosseira de um mundo ideal superior. Todavia, o que Sebatião Salgado nos apresenta através de seu trabalho representado nesta imagem é uma realidade chocante e cruel. Nos transforma em vitimas de nosso próprio egoísmo e egocentrismo.

Muitos olharão esta imagem e sentirão um completo desprezo; desprezo não apenas pela obra em si, mas pela própria vida humana, pela situação de completo abandono em que vivem as comunidades pobres do mundo, incapazes de um gesto de solidariedade, omissos e alheios a dor de povos vizinhos.

Mesmo em preto e branco a imagem é carregada de cores, de emoção e de sensibilidade. Tras as cores de uma esperança que renasce a cada amanhecer. Aparenta um profundo respeito a dignidade humana e um claro protesto silencioso mas profundamente impactante contra a violação desta dignidade, ocasionada por fatores sociais, políticos e econômicos que transformam o homem em germe de sua própria destruição.

A raça humana, embora se divida em cores, linguas, culturas e nações continua sendo uma só, apenas as oportunidades não são as mesmas, as condições de vida não são as mesmas, mas os ideais de liberdade, de soberania, de sobrevivência, de luta, de vitória e de conquistas são os mesmos em todas as etnias.


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