quinta-feira, 6 de maio de 2010

Narrativa crítica 1

Volta e meia esta pergunta nos vem à mente: “Qual a necessidade social e a base filosófica para que a arte tenha um lugar tão importante na nossa educação?”.
Vivemos um tempo de distorção de valores e banalidades onde a educação é percebida como única saída digna para que o homem não perca sua função social.
Pensando nas práticas históricas do ensino de artes visuais, são várias as vertentes que partem do princípio da representação da nossa realidade.
O desenho, dentro deste segmento da cultura visual é uma forma de materializar idéias e pensamentos, posto que o desenho seja um excelente meio de comunicação transmitindo conceitos e valores.
Trabalhei por dois anos e meio num programa socioeducacional voltado para crianças carentes e com algum tipo de defasagem escolar. Neste programa as crianças chegavam sem nenhuma perspectiva de autoestima. Não confiavam em seu poder criativo nem no poder transformador do autoconhecimento.
Ao terem contato com o desenho, não do jeito que elas conheciam, mas no ato de desenhar explorando os próprios sentimentos, a própria individualidade, a subjetividade, não podemos afirmar que os problemas de defasagem ou de mau desenvolvimento escolar desapareceram, mas compreendemos então que muito do insucesso daquelas crianças era fruto de um lar desestruturado onde não havia espaço para o diálogo.
A partir do envolvimento delas com as práticas do ensino das artes através do desenho a barreira do silêncio desapareceu, porque elas podiam enfim falar o que lhes aprisionavam através do desenho. E principalmente, podiam ser ouvidas sem criticas ou constrangimentos.
Desenho é a expressão dos sentimentos e enquanto educadora precisava ser sensível a isso. Desenhar é basicamente criar, partindo de algo que a mente humana restabeleceu de forma crítica. Desta forma, quando desenhamos, além de expressar o que pensamos, estamos pensando formas, pois usamos nossa percepção e nossa memória visual para criarmos tais elementos. Estas formas seriam nossas reflexões sobre o mundo, sobre nossos medos, angústias, vontades, sensações e anseios.
Logo, esta prática histórica do ensino de artes visuais que compartilhei, garantiu não apenas minha contribuição na vida de outras pessoas, mas também na minha própria vida, pois me despertou o gosto e a sensibilidade por esta prática.
Acredito que todo indivíduo desenhista, pintor, autor, ao compor uma obra incorpora os elementos de seu meio social e cultural às suas imagens, pois se o desenho é a representação gráfica da realidade, logo o ambiente cultural em que vivemos influencia diretamente na composição de nossos desenhos e imagens. Nosso contexto social tornam-se a base de nossas criações.
Segundo Belidson Dias, em seus escritos essenciais, desde a pré-história o homem tem a necessidade de descrever o seu mundo, expressar-se e registrar suas idéias.
“Os símbolos foram os meios pelo qual o homem conseguiu sair do estado animal de inconsciência, para a primeira fase de consciência”. Baseado nisto é que acredito fielmente que esta prática possa libertar os indivíduos de seu estado de inércia para um estado de reflexão e ação.
“As artes refletem as idéias filosóficas de uma determinada época, assim como também são utilizadas para promover valores de uma sociedade”.
Desta forma concluo que nenhuma prática visual representa melhor esta citação de Belidson Dias do que a prática do desenho, pois como ele mesmo se refere “o maior produto social do ensino de arte não são os trabalhos de arte e sim a formação de um tipo de pessoa que seja capaz de apreciar a arte com uma atitude crítica e que seja capaz de transformar a sua experiência estética em algo positivo para a sua vida e para a sociedade”.

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