quinta-feira, 5 de julho de 2012

O projeto do outro

Aos dias 13 de junho de 2012 estivemos reunidos no Polo de Apoio Presencial, onde na oportunidade pudemos apresentar para a turma nossos Projetos Interdisciplinares e os resultados alcançados; como proposta da disciplina PIEA_2, teríamos que discorrer sobre um entre todos os projetos apresentados.
Escolhi para analisar o projeto ‘Expressando a lenda folclórica regional do boto cor-de-rosa através da técnica assemblage’, de autoria de Isangela Costa da Silva. O projeto em questão foi desenvolvido na Escola de Ensino Médio Dom Júlio Mattiole e aborda temas pertinentes à tradição, cultura e folclore, alem de trazer uma gama de informações e reflexões sobre nossas histórias regionais, e seus personagens lendários.
O projeto desenvolvido pela colega une respectivamente as disciplinas História e Artes e está associado à assemblage, o que contribuiu muito no meu interesse pelo projeto, pois conversa de alguma forma com o projeto desenvolvido por mim, que também tem as mesmas disciplinas e técnica como foco. A assemblage ainda é uma técnica pouco conhecida pelo público atingido, por isso acredito muito nos bons frutos que serão gerados como resultado da aplicação deste projeto, pois o mesmo conseguiu unir dois elementos pertinentes (folclore e assemblage) que conversam diretamente com a realidade local e com a necessidade de se explorar mais profundamente temas regionais com um espírito mais reflexivo e menos conservador.
Também acredito que precisamos criar mecanismos para compreendermos um pouco mais sobre o folclore regional, nossa cultura popular, os costumes e crenças que são repassados de geração para geração, mas que acabam perdendo seu significado com o passar do tempo, e um projeto com esta temática é uma ótima iniciativa. É importante trabalhar este resgate cultural nas escolas e abordar este tema com um foco artístico pode fazer toda a diferença neste processo.
O projeto sobre a lenda do boto cor de rosa foi pensado para que os jovens pudessem discutir mais sobre nossa identidade cultural, na perspectiva de que os estudantes pudessem ter uma nova visão sobre a própria realidade.
Quando a colega aborda a lenda do boto, ela está não apenas resgatando uma tradição e os valores atribuídos a ela, mas está também gerando discussões e reflexões sobre o comportamento da sociedade em que estamos inseridos, uma vez que a lenda do boto surgiu da necessidade de mascarar uma atitude “errada” perante os olhos da sociedade de gerações passadas, que seria a gravidez antes do casamento.
Para distorcer a realidade, surgiu a lenda de que as moças solteiras seriam atraídas e encantadas pelo boto. Muito pela inocência, pela esperteza, pela ignorância ou por simples conveniência, a lenda amazônica serviu para diminuir a “vergonha” de quem, por ventura, se tornasse mãe solteira...
O fato é que, o tema pode servir de pano de fundo para muitas discussões, desde o mero resgate cultural até questões comportamentais e valores morais que vão se remodelando com o passar dos tempos.

Link para o blog e o projeto original de Isangela Costa: http://isangelacosta.blogspot.com.br/ 
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Isangela Costa apresentando seu projeto para a turma

Assemblage idealizada por ela

Assemblage produzida pelos alunos em sala de aula, inspirada na lenda do boto

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Relacionando Arte e História


Ao longo do tempo, percebemos que a existência do homem não se limita à simples obtenção dos meios que garantem a sua sobrevivência material. Visitando uma expressiva gama de civilizações, percebemos que existem importantes manifestações humanas que tentaram falar de coisas que visivelmente extrapolam a satisfação de necessidades imediatas. Em geral, vemos por de trás desses eventos uma clara tentativa de expressar um modo de se encarar a vida e o mundo.
Para muitos, o conceito de arte abraça toda e qualquer manifestação que pretenda ou permita nos revelar a forma do homem encarar o mundo que o cerca. Contudo, o lugar ocupado pela arte pode ser bastante difuso e nem sempre cumpre as mesmas funções para diferentes culturas. Não por acaso, sabemos que, entre alguns povos, o campo da expressão artística esteve atrelado a questões políticas ou religiosas.
Na opinião de alguns estudiosos, o campo artístico nos revela os valores, costumes, crenças e modos de agir de um povo. Ao detectar um conjunto de evidências perceptíveis na obra, o intérprete da arte se esforça na tarefa de relacionar estes vestígios com algum traço do período em que foi concebida. A partir dessa ação, a arte passa a ser interpretada com um olhar histórico, que se empenha em decifrar aquilo que o artista disse através da obra.
Com isso, podemos concluir que a arte é um mero reflexo do tempo em que o artista vive? Esse tipo de conclusão é possível, mas não podemos acabar vendo a arte como uma manifestação presa aos valores de um tempo. Em outras palavras, é complicado simplesmente acreditar que a arte do século XVI tem somente a função de exprimir aquilo que a sociedade desse mesmo século pensava. Sem dúvida, o estudo histórico do campo artístico é bem mais amplo e complexo do que essa mera relação.
Estudando a História da Arte, percebemos que uma manifestação de clara evidência “artística” pode não ser encarada como tal pelo seu autor ou sociedade em que surge. Além disso, ao estabelecermos um olhar atento à obra de um único artista, podemos reconhecer que os seus trabalhos não só refletem o tempo em que viveu, mas também demonstram a sua relação particular, o diálogo singular que estabeleceu com seu tempo.

Seguindo esta linha de pensamento, gostaria de abordar os conceitos de identidade e diversidade cultural do povo acriano, focando no tema das ‘festas juninas’ como síntese dessa diversidade, que resume bastante a influência cultural sofrida nos aspectos sociais e econômicos locais.
A chamada Festa junina tem sua origem em países católicos da Europa e, portanto, seria uma homenagem a São João, sendo chamada a princípio de ‘São Joanina’. De acordo com historiadores, esta festividade foi trazida para o Brasil pelos portugueses, ainda durante o período colonial e disseminado no país pelos migrantes que seguiam para regiões de seringais em busca de trabalho, assim, a festa chegou à região Norte do país. Logo, o nome original foi descaracterizado, pois a festa passou oficialmente a ser comemorada no mês de junho, perdendo totalmente o cunho religioso, pois a festa na região comemora especificamente o fato do mês de junho ser a época da colheita do milho, daí o nome ‘Festa junina’.
Nesta época, havia uma grande influência de elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses. Da França veio a dança marcada, e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas. Já a tradição de soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da península Ibérica teria vindo a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha. Todos estes elementos culturais, com o passar do tempo, se misturam aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas.
Pretendo, portanto, a partir destas evidências produzir uma obra de arte baseada nas festas juninas como síntese dessa mistura cultural, através da técnica artística Assemblagem, utilizando vários objetos representativos desta temática com o objetivo de provocar uma conscientização sobre a influência de outras culturas e seus símbolos em nossa identidade cultural e como esta mistura gera a capacidade de formar outros novos símbolos sucessivamente, retratando assim a diversidade e pluralidade existente dentro deste contexto multicultural que influenciam os aspectos sociais e econômicos locais.

Referências Bibliográficas:

Arte e História. Disponível em: http://www.brasilescola.com/artes/a-arte-na-historia.htm. Acesso em: 06/04/2012.

História da festa junina e tradições. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/musicacultura/historia_festa_junina.htm. Acesso em: 07/04/2012.




quarta-feira, 30 de maio de 2012

Cartilha

Por: Cleonildes Aquino da Costa

Compreendendo a tradição da

 1. Origem _ O que é a festa junina?

São João X colheita do milho
 
A chamada Festa junina tem sua origem em países católicos da Europa e, portanto, seria uma homenagem a São João, sendo chamada a princípio de ‘São Joanina’. Esta festividade foi trazida para o Brasil pelos portugueses, ainda durante o período colonial e disseminado no país pelos migrantes que seguiam para regiões de seringais em busca de trabalho, assim, a festa chegou à região Norte do país. Logo, o nome original foi descaracterizado, pois a festa passou oficialmente a ser comemorada no mês de junho, mês em que se comemora a colheita do milho; daí o nome ‘Festa junina’.
Nesta época, havia uma grande influência de elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses.

 
  2. Influências, Símbolos e Significados


Da França veio a dança marcada, e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas _ característica marcante presente na tradicional festa junina.


Já a tradição de soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Teoricamente, Os fogos que são queimados nas festas juninas são para acordar São João, segundo os fiéis; no entanto, alguns significados vão se perdendo com o tempo.


Da península Ibérica teria vindo à dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha, que veio somar como mais um elemento característico da dança de quadrilha.

 
No Acre, a influência indígena na culinária é mais notória, pois nos apropriamos de muitos elementos como a macaxeira e o milho, de onde são preparados os pratos principais da festa, desde os próprios alimentos cozidos, até bolos, salgados, pé-de-moleque, pamonhas, canjicas, cuscuz, cural, etc.


E o tradicional prato ‘baixaria’, tipicamente acriano, que já é um elemento novo que se transformou a partir da mistura de vários outros elementos culturais, entre eles indígenas e ocidentais. (cuscuz com carne moída, ovo, cebola e tomate).


Com o passar dos anos, as festas juninas ganharam outros símbolos característicos. Como é realizada num mês mais frio, passaram a acender enormes fogueiras para que as pessoas se aquecessem em seu redor.
As bandeirinhas indicam o início da festa, mas foram criados para reverenciar os santos da festa, agradecendo pela realização dos pedidos, normalmente relacionados ao namoro e ao casamento.

3. Sugestão de atividade
Organizar um sarau, envolvendo os elementos característicos da festa junina, considerando suas influências e significados, explorando cores, texturas, sabores e possibilidades.
    
4. Referências Bibliográficas:




 



Roteiro do projeto interdisciplinar


Título e autoria:
Festa junina _ Síntese de uma mistura cultural
Autora: Cleonildes Aquino da Costa

1. Apresentação:
Este projeto nasce da necessidade de valorização da tradição e conscientização da influência cultural sofrida nos aspectos sociais e econômicos locais. Alem disso, o projeto visa apresentar (através de uma assemblagem) as festas juninas como elemento síntese de uma grande mistura cultural buscando provocar reflexões sobre a influência dos símbolos de outras culturas em nossa identidade e como esta mistura gera a capacidade de formar outros novos símbolos.
Disciplinas envolvidas: História e Arte.

2. Motivação:
A necessidade de abordar este assunto vem justamente da falta de informação e embasamento em apresentar a festa junina como tradição local para as novas gerações; muitas pessoas não sabem a origem desta festa, seu significado, as influências sofridas e as contribuições de outras culturas para a solidificação deste elemento cultural como tradição local.

3. Objetivo:
·         Estimular o debate sobre a história local e a valorização da identidade cultural;
·         Promover o gosto das pessoas pelo conhecimento das origens dos símbolos herdados por culturas diversas os quais nos apropriamos e transformamos em signos próprios do lugar onde vivemos;
·         Promover uma reflexão sobre como esta mistura cultural gera a capacidade de formar outros novos símbolos.

4. Público alvo:
Comunidade escolar do município de Sena Madureira. A perspectiva é promover uma reflexão sobre como nossa identidade cultural é impactada pela influência de outras culturas e sobre como nos apropriamos destes símbolos e os transformamos em outros novos signos.   

5. Metodologia:
Realizar pesquisas sobre o tema em questão em sites e livros específicos sobre o tema; estudos e esboços sobre o símbolo cultural a ser explorado e a técnica em que o mesmo será apresentado;
Definição dos materiais a serem utilizados;
Os objetos serão dispostos dentro da caixa de papelão, (ou no próprio chão), que será adequado a fim de acomodar os diversos elementos que simbolizarão as várias influências culturais sofridas no decorrer da história;
Serão utilizados alguns objetos descartáveis do dia a dia, que serão reutilizados; a idéia é que a partir dos vários objetos representativos da festa junina, a obra se transforme em algo novo, assim como aconteceu com este símbolo cultural com a apropriação dos elementos de outras culturas.
A obra será apresentada de forma simples, provavelmente ficará disposta no chão, para que possa ser observada do alto.

6. Instrumentos, materiais e técnicas a serem utilizados:
A técnica utilizada será a assemblagem, através de materiais diversos como: Caixa de papelão medindo aprox. 40x40cm, papel crepom colorido, papel branco, papel cartão, barbante, cola, tesoura, estilete, gravetos de madeira, milho, objetos diversos do dia a dia e etc.;

7. Referências de conceitos, artistas, projetos, obras ou fragmentos ligados ao que você pretende dizer e à maneira como pretende fazê-lo.
Pesquisando textos, projetos e afins encontrei o roteiro de um projeto no blog Minhas Curiosidades que considero interessante e relevante para a construção do meu próprio projeto, pois a proposta do mesmo é o resgate da identidade cultural de um determinado local; tomando este exemplo como referência, acredito que a partir de um projeto cuja perspectiva é contar os diversos fatores que contribuíram para a formação de uma festa tradicional, os valores sociais são resgatados, ou são repensados, pois mesmo que não haja uma cultura genuína, há a criatividade de um povo que é capaz de abstrair aquilo com o que se identifica e incorporá-lo a sua rotina e é esta consciência que é importante para qualquer cultura, para qualquer sociedade em qual tempo for.

Projeto Escolar: Nossa História, Nossa Gente; Blog Minhas curiosidades. Disponível em:  http://apdsantos.blogspot.com.br/2009/01/projeto-escolar-nossa-histria-nossa.html. Acesso em: 21/04/2012.

Projeto Escolar: Festas Juninas – Tradição, Cultura e Arte; Blog Minhas Curiosidade. Disponível em: http://apdsantos.blogspot.com.br/2009/01/projeto-escolar-festas-juninas-tradio.html. Acesso em: 22/04/2012.



Uma imagem que represente parte do meu universo...

Imagem no lixão de Sena Madureira, 2010.


A imagem a cima é muito significativa para mim. Representa uma ruptura, um momento de libertação, de identificação e doação desenvolvida pela arte nestes anos de curso que se seguem. Representa uma quebra de paradigma e uma mudança profunda da concepção que tinha sobre arte.
Tirei esta foto de uma amiga, enquanto realizávamos um trabalho para a disciplina Tecnologias Contemporâneas na Escola 3; fazíamos um vídeoarte que tinha como proposta apresentar o feio em contraste com o belo na realidade da sociedade local, na verdade a foto tornou-se símbolo desse contraste, pois de repente me dei conta de que poderia haver muita beleza na feiúra e que aquilo não seria necessariamente bonito aos olhos da sociedade, mas que continha um valor artístico muito grande e que deveria ser explorado, assim como também existem muitas paisagens e coisas bonitas que de repente se tornam feias por não terem um sentido estético.
Em fim, o que a imagem em questão representa é esse despertar de uma sensibilidade que talvez não existisse se não houvesse a oportunidade de explorá-la através da arte, nas coisas do meu cotidiano, na sociedade na qual estou inserida, expandindo meu olhar para alem do óbvio, através da paixão pela fotografia.
A imagem é simples, mas carregada de muito sentido e reflexão. O lugar é horrível, o cheiro é horrível, desesperador, repugnante, mas considero a imagem linda e significativa, um momento de doação e de encontro com a arte e suas formas de manifestação que tanto admiro e que deveriam ser mais respeitadas em sua essência.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Na Véspera


Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego...
Grande tranqüilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
É a véspera de não partir nunca!

 Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.