quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Transdisciplinaridade


“A transdisciplinaridade está ‘entre’, ‘através’ e ‘além’ das disciplinas”. (Basarab Nicolescu, 1999).
Com base no enunciado a cima, compreendemos que transdisciplinaridade não é apenas um conjunto de informações disciplinares que se cruzam e conversam entre si. A transdisciplinaridade está além da mera integração entre as disciplinas.
Muitos confundem interdisciplinaridade com transdisciplinaridade; obviamente devemos reconhecer que uma está ligada à outra, mas ambas possuem características peculiares que as diferenciam.
A transdisciplinaridade propõe que deixemos de lado a velha visão fragmentada que temos a cerca de tudo o que supostamente conhecemos e façamos novas conexões, ampliando a visão que temos do mundo, fazendo assim novas construções e leituras mais criticas de todas as possibilidades que nos cercam.
A transdisciplinaridade não se satisfaz com os velhos conceitos já estruturados, pois ela vem com uma proposta de questionamentos a cerca destes resultados, que se baseia em uma atitude aberta a cerca de todos os componentes da natureza humana, dentre eles a espiritualidade.
Não se pode falar de transdisciplinaridade, se o componente espiritual não é considerado seriamente. O motivo disso é que esse componente é “parte” da natureza humana e como tal merece um aprofundamento maior, se queremos compreender o ser humano na sua totalidade.
Segundo o Artigo 1 da Carta da Transdisciplinaridade, “toda e qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma definição e de dissolvê-lo no meio de estruturas formais, sejam quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar”.
Consideremos ainda o que diz o Artigo 11: “Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Ela deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar revela o papel da intuição, do imaginário, da sensibilidade e do corpo na transmissão do conhecimento”.
Assim, conclui-se que a transdisciplinaridade propõe não apenas a unificação do conhecimento, mas antes e principalmente, uma visão ampla do mundo e uma revisão de nossos antigos conceitos para enfim, compreendermos que o homem e o universo são elementos indissolúveis.


Resenha critica do texto ‘Pensar é desejar’, de Rinaldo Voltoline

Freud parece ter ido na contra mão do que todos os outros teóricos da psicologia exploraram. Para começar fugiu do senso comum. Enquanto todos os outros abordaram temas como conhecimento e inteligência, Freud foi mais audacioso. Ele não desconsiderava tais elementos, mas os analisavam sob uma outra dimensão.
Para Freud, a forte resistência à psicanálise não se dava por ser esta ou aquela tese incorreta, mas sim, porque a sociedade não estava preparada para ouvir certos pressupostos com os quais não sabia como lidar. Freud costumava escandalizar com suas teorias, a exemplo disso, suas considerações sobre a existência de uma sexualidade infantil.
Ele não costumava abordar temas como a ‘compreensão’, porque este elemento já está implícito no campo do conhecimento.
Freud também chocou de maneira desafiadora uma sociedade acomodada em seus conceitos tecnológicos quando junto a outros grandes pensadores feriu o orgulho dos homens ao revelar que ninguém é grande ou importante o suficiente, a ponto de ser o centro do universo, afinal, nem nossos próprios pensamentos nos pertencem, pois há sempre uma força superior que nos impulsiona. Mesmo Freud sempre tão realista, admitiu que não se pode separar por completo o mito do pensamento humano.
O homem pode aceitar que mito e pensamento lógico convivam harmoniosamente, afinal, o mito é uma estratégia confortável de estabelecer sentido às questões existenciais, mais do que pensar criticamente a respeito delas.
Acreditamos que somos o centro do universo e colocamos os fins do prazer sempre a frente dos fins de sobrevivência, por este motivo vivemos num eterno questionamento, mais por querermos nos adiantar aos acontecimentos do que por querermos evitar conseqüências desastrosas, a não ser que tais conseqüências nos afetem diretamente.
Conclui-se assim, que fazemos uso da razão não para tentarmos compreender a realidade, o que pretendemos inexoravelmente, é dominá-la por completo, de modo que não exista mais acaso, que tudo esteja sob o nosso controle. De fato temos tudo às nossas mãos, o que não podemos, nunca de jeito nenhum, é perder o controle sobre nós mesmos, aí todo esse conhecimento e liberdade que tanto perseguimos seriam a nossa própria ruína.

Reflexões sobre como pensamos e aprendemos; o papel dos educadores e de que maneira se espera que a escola se relacione com o restante da sociedade

Definir a forma como pensamos ou aprendemos é uma tarefa das mais complexas, pois cada indivíduo possui ritmos e estilos diferentes de aprendizagem, mas no que somos unânimes é quanto a importância do outro neste processo. É através da interação e da troca efetiva de experiências que de fato construímos nossa aprendizagem.
Acredita-se que agimos no mundo de modo que ele incline-se às nossas necessidades, mas Freud revelou que nem nossos próprios pensamentos nos pertencem, pois há sempre uma força superior que nos impulsiona.
Nosso papel enquanto educador não se resume simplesmente a ensinar a ler e escrever, mas ensinar a refletir criticamente a cerca do mundo em que vivemos, do meio que nos cerca e principalmente sobre nós mesmos. Sobre nossas atitudes e potencialidades.
Enquanto arte-educadores nosso desafio maior é formar cidadãos conscientes e politizados e isto não é nenhuma demagogia, pois somos formadores de opinião e logo temos influencia direta na formação do caráter e da personalidade de nosso alunado.
Nossas estratégias devem visar o construtivismo, pois isto significa contestar contra um sistema educacional decadente que teima em continuar essa forma particular de transmissão, que consiste em ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, criar e construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, ou seja, pela sociedade. Nossas abordagens devem constituir a interação do individuo com o meio físico e social.
O aluno não deve ser tratado como mero expectador, e sim deve ser ouvido, pois é através do dialogo, da contradição e das reflexões apontados por outras consciências que novas estruturas são concebidas aflorando as singularidades. A educação baseada no dialogo restitui a possibilidade de instaurar o significado das coisas e recombinar o mundo de acordo com a condição singular e social que nos envolve.
Desta forma, espera-se que a escola se relacione com o restante da sociedade de forma conjunta, respeitando e agregando valores que ambas considerem significativos para a boa convivência destes dois eixos.
A participação da família é fundamental para o desenvolvimento da criança. E para que este desenvolvimento aconteça é necessário levar para a escola a cultura de sua comunidade e voltar esta pratica para a formação total do aluno, pois a educação é um processo coletivo e não se resume mais ao dueto professor/aluno.
.

Memória Educativa...


Parece-me contraditório afirmar que somente quando ensinamos, temos a chance de aprender de verdade. Contraditório sim, mas consiste na mais perfeita realidade.
Para se compreender a afirmação a cima, faz-se necessário viajar de volta ao passado, percorrer um longo caminho de lutas, conquistas e descobertas; Retroceder em vinte anos passados e refazer o caminho que me trouxe aqui.

Meados de 1987. Entre cinco e seis anos de idade tive o meu primeiro contato com o mundo lúdico do Ensino Infantil. Infelizmente hoje inexistente, outrora foi o ambiente acolhedor onde me despertou o gosto pela leitura, e iniciou-me no “caminho das artes”. Quando cito caminho das artes, refiro-me a características e sensações compatíveis ao universo infantil, como trabalhos manuais, pinturas, reciclagens, colagens e tudo aquilo que é pertinente ao desenvolvimento infantil, já despertando uma certa consciência ecológica e um gosto característico por tudo aquilo que exercita a criatividade, em todas as suas possibilidades.
Recordo-me daquele tempo _ porque não dizer “mágico”, e daquele lugar que adorava, com todos aqueles lances enormes de escada para correr e enlouquecer os educadores... Daquelas histórias todas encantadoras, que me possibilitavam fazer parte delas... Daquelas rodas de ‘contação’ de histórias, onde éramos levados a criar também. Tudo era permitido; a imaginação não tinha limites. E não é demagogia: Sou grata a todos os educadores e recreadores da época, (muitos nem estão mais entre nós), por contribuírem no despertar do meu lado criativo. Se é mesmo verdade que os anos iniciais são fundamentais no processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança, então posso afirmar categoricamente que fui felizarda em encontrar pelo caminho pessoas tão comprometidas com a educação, o que para aquela época, pode-se dizer que não era algo muito comum em algumas instituições.
Comparo a educação que meu filho vem tendo hoje, com a mesma idade que eu tinha naquela época. Só queria que à ele e a outras crianças da mesma idade, fosse incentivado um pouco mais o lado criativo, que elas pudessem dar mais asas à imaginação. Não vejo um retrocesso, mas talvez, uma certa estagnação na mesmice.
Concluído então o ensino infantil, veio o ingresso no que chamávamos de primário, que se deu no ano de 1989, hoje o atual Ensino Básico (1ª a 4ª série).
Não me recordo se este processo de transição foi traumático, mas me recordo perfeitamente da primeira professora do primário. Era tão meiga e paciente, que me parecia impossível tirá-la do sério. No ensino infantil aprendi a desenvolver o lado lúdico; no primário dei os primeiros passos no mundo da escrita e me vi fascinada com a oportunidade de poder colocar no papel as idéias que tinha na mente.
Neste período também pude contar com pessoas excelentes _
Professoras, mulheres, mães – que me fizeram admirá-las profundamente e querer o oficio delas para mim. O primeiro sonho de toda menina é ser professora, e como tal não fugi a regra. Sonhava com o dia em que teria meus próprios alunos!
O encanto se desfez, quando na quarta série me deparei com uma professora, com métodos um tanto quanto duvidosos e questionáveis, (e, diga-se de passagem: com o total aval da escola). A referida professora tinha o triste hábito de colocar alunos mal comportados de castigo no canto da sala com a carteira na cabeça, ou no pátio da escola, em pé, sob sol forte... (não sei se estes métodos humilhantes surtiram efeitos positivos na vida de algum colega da época, mas com certeza ela se tornou inesquecível na vida de muita gente, não pelo seu lado mais encantador, é claro).
Na época, me parecia comum que certas professoras utilizassem de tais métodos para “educar”. Muitos pais não se pronunciavam a respeito por acharem que fazia parte do processo, ou talvez por simplesmente desconhecerem tais “metodologias” absurdas. Quem não queria “aprender” através do método peculiar da professora _ (e ela não era a única), tinha que esforçar-se para não ser o pior da turma. Muita falta fizeram as teorias de Paulo Freire, Jean Piaget, Vigotski e outros pensadores – educadores na vida das distintas professoras. Felizmente, muito presente na formação dos professores da era contemporânea.
Mas esses foram apenas os passos iniciais rumo a uma longa jornada. E até então não imaginava quão cansativa seria, mas extremamente necessária e hoje, tão recompensadora.
Sob uma nova perspectiva, mas com uma visão critica ainda por ser desenvolvida, ingressei no antigo ginásio, o que é hoje o Ensino Fundamental. Era o ano de 1994, o que considero o mais significativo para a construção da minha personalidade. 94 foi um ano de muitas mudanças. E não me refiro apenas a mudança de ambiente, de turma, de desenvolvimento físico, mas de crescimento interno principalmente.
Tudo ia bem, as amizades firmadas, a confiança nos professores... Até que no meio do ano de 1996, uma greve sem precedentes se abateu sob as escolas da rede municipal, e meus pais não tiveram outra opção se não a de me transferir para uma outra escola, da rede estadual, distante da minha casa, o que se configurou em um grande transtorno na minha vida. Chegar a uma escola nova, em um ambiente desconhecido, fazer parte de uma turma que não era a minha, e ainda por cima no meio do ano! Qualquer adolescente de 14 anos se sentiria desorientado. Foi ai que desenvolvi a síndrome do patinho feio, (felizmente ela só dura até serem firmadas grandes e eternas amizades!).
Até então, havia sempre estudado em escolas no mesmo bairro em que residia; escolas próximas a minha casa. Nunca havia saído da minha “zona de conforto”. Mas para minha surpresa, o que antes se configurava em um grande transtorno, aqueles vieram a ser os melhores anos da minha vida. Só mais tarde eu entenderia. A adaptação ao novo ambiente veio naturalmente. Senti um gosto maior de liberdade. E as experiências advindas desse novo processo, só vieram a me acrescentar, como estudante e como ser humano em processo de evolução.
As pessoas eram diferentes, o ambiente, as idéias, era tudo novo. Foi ai que passei a me identificar como indivíduo integrante de um grupo, onde opiniões divergiam, mas que isso era necessário para a construção do pensamento critico e do ‘eu’ interior. E me vi então crescer em dois anos, o que não havia crescido nos anos anteriores.
As notas com certeza não eram as melhores da turma em determinadas disciplinas, (tive muitas aulas particulares de matemática ao longo da vida) mas jamais nenhum professor pode ter me culpado por não ter tentado.
Aqueles dois anos que mudaram minha vida culminaram com uma grande festa de formatura, que nós mesmos organizamos e tratamos de aproveitar. Foi ai também que pela primeira vez experimentei as peripécias do álcool e beijei aquele carinha que me paquerava insistentemente... Mas... Essa é uma outra história, e não cabe nesse contexto.
As lembranças que tenho dessa época jamais serão esquecidas. Sabe aquela professora, pequena na estatura, mas enorme em generosidade, que te ensina que interpretar textos é muito mais que só copiar conceitos prontos... É buscar dentro de você as respostas... É se fazer parte do contexto... (sempre quis ser como ela). Sabe aquela outra, de fala mansa, que faz você amar o que está fazendo e ainda assim querer aprender sempre mais, (ainda existe um pouco dela em mim). E aquele professor que te faz odiar a matemática ou a geografia... (tive sérios problemas com um professor de geografia), mas esses me fizeram compreender que nem tudo pode ser como nós queremos, mas que para todos os problemas existe solução, e que elas nunca devem ser procuradas muito longe, porque a resposta sempre está dentro de nós.
Passado algum tempo, a trilha chega ao meio e me leva para um mundo novo. 1998 é o ano e o Ensino Médio, já com a atual nomenclatura é o destino. Quantas possibilidades! Tudo acontecendo ao mesmo tempo. A vida, o mundo, as tecnologias _ tudo em transformação continua e acelerada. Globalização era a bola da vez. Compreender o que se passava no mundo era fundamental.
A escola onde estudei, conceituada e respeitada pela sociedade, por ser a única de ensino médio no município, me abriu as portas para o mundo tecnológico e a curiosidade pela informática foi explorada. Já tinha autonomia, e exigia de mim, tanto quanto exigia de meus professores. Já não éramos mais adolescentes em busca de auto-afirmação, éramos adultos em processo de formação. As opiniões próprias nos levavam a onde queríamos e ninguém mais poderia nos ensinar como pensar, pois já éramos agentes de um processo de transformação. Tudo era questão de acordo, assimilação e reflexão.
Meu maior progresso se deu nesta fase. Não posso negar que me destacava tanto no falar, como no escrever, mas tudo isso era uma espécie de fórmula que encontrei para maquiar certa timidez, por esse motivo me empenhei a desenvolver tais habilidades. Porém, nunca fui egoísta, sempre gostei de ajudar meus amigos, principalmente os que tinham problemas com a gramática durante o processo de construção de alguns trabalhos. Isso me engrandecia, pois enquanto ensinava, consequentemente aprendia.
A relação educacional não se resumia mais ao dueto professor/aluno. Tudo era uma constante troca. Alguns laços de amizade que se formaram nesse período são indissolúveis. Existem pessoas que ficam para sempre, mesmo que fisicamente não estejam mais presentes.
Eu me preparava para continuar o legado de minha mãe. Professora a mais de vinte anos. O Magistério parecia ser minha sina. Também sempre fizeram questão de me alertar que esse era o único mercado disponível em nosso município, e essa realidade parece nunca ter mudado.
Com as Didáticas Aplicadas, os planos de Aula e os Estágios Supervisionados, acreditei realmente que aquele poderia ser o meu dom.
Três anos se passaram e veio a formatura. Não fui oradora, mas me lembro de ter sido responsável pela mensagem de agradecimento aos entes queridos.
Tudo parece ter acabado muito rápido, amizades, amores, ilusões, decepções, passeios, idas à praia com toda a turma... O processo de aprendizagem não se dava somente dentro da sala de aula; nossa interação era responsável pelo prazer de nos encontrarmos todas as manhãs de todos os dias, durante três anos.
O tempo foi passando e o mercado era muito limitado. Ensino Médio somente não era requisito para contratações. Até que quatro anos após a formatura veio a proposta do primeiro emprego.
Deparei-me com a oportunidade de poder atuar como educadora em um programa socioeducacional, chamado AABB Comunidade, que atendia crianças carentes do município, e com problemas na aprendizagem escolar.
Ao entrar em sala de aula pela primeira vez como docente, e por lá permanecer por apenas dois anos e meio, percebi a falta que fazem esses grandes mestres que passaram pela minha vida e como a falta de comprometimento podem afetar uma vida inteira. Comprometimento da família, dos professores, e principalmente de si mesmos. Comprometimento com o futuro. Não falo de falta de oportunidade, pois nem se quer possuímos escolas particulares, o ensino aqui é público para todos, pobres ou ricos. Ninguém nos força a crescer. Esse processo vem de dentro para fora, precisamos às vezes apenas de uma orientação. Felizmente tive uma família que sempre fez de tudo pela minha educação. Filha de professora e de policial, eles sempre quiseram me dar o que não puderam ter. Infelizmente nem todos os pais pensam assim.
A convivência com essas crianças me tornou mais humana, mais solidária. Só então percebi que não sabia nada. Elas me ensinaram que eu precisava aprender à ensinar, pois cada uma delas tinha certa defasagem que necessitava de tempo e atenção. A minha musica precisava tocar no ritmo delas e não o contrario.
Durante o período em que lecionei, talvez muito pouco tenha ensinado de verdade, o maior legado que trago comigo é o carinho sincero dessas crianças, pelo simples fato de ter-lhes dado um pouco de atenção. E isso não morre jamais.
Apesar de gostar do que fazia a remuneração não era suficiente, e eu precisava alçar novos vôos. Para isto vinha me preparando. Enquanto trabalhava à tarde, a noite fazia um curso preparatório para vestibular (e mais uma vez me deparei com o fantasma da matemática, da física e da química, verdadeiros monstros na minha vida!). Ironicamente tentei Economia, mas apenas por ser o único curso oferecido naquele momento, e é claro: não passei. Mas no mesmo ano fui aprovada em concurso público, para o cargo de Técnico em Gestão Pública que ocupo há mais de dois anos.
Tudo que vivi e aprendi em meus anos como estudante serviram para abrir meus caminhos até aqui.
Ensino fundamental, médio e hoje superior, todos eles, me ensinaram a construir o que sou hoje. E não falo apenas de conhecimentos teóricos ou de atributos intelectuais, mas de persistência, falo de esperança, de dignidade, de força de vontade, de crescimento, de maturação, de respeito ao próximo, de solidariedade... Falo de sentimentos, ‘de gente’, de pessoas que passaram pela minha vida e me marcaram de tal forma, que seus nomes estarão gravados para sempre no livro de minhas memórias.
Desenvolver o raciocínio lógico, a reflexão, podem parecer clichês. Talvez. Mas de tudo que tenho e sou, meu maior orgulho é ser uma cidadã consciente e um ser humano critico. Felizmente sempre tive a honra de contar com alguns grandes mestres que me ajudaram a desenvolver tais características.
Hoje, quem diria! Realizo meu grande sonho de cursar uma faculdade, no mesmo lugar onde dei meus primeiros passos no mundo da aprendizagem. No lugar em que a vinte e poucos anos atrás era o Centro Social Urbano, onde cursei o Ensino Infantil, hoje é o Pólo da UAB, onde tenho a honra de me formar no Curso de Licenciatura em Artes Visuais.

sábado, 8 de maio de 2010

Show do ministro brasileiro de educação nos Estados Unidos: Esculacho educadissímo nos americanos!


Durante debate em uma universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia.

O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr.Cristóvam Buarque:

'De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.

'Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

'Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.

'Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito, um milionário japonês,decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

'Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo,deveria pertencer ao mundo inteiro.

'Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

'Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.

Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. 'Só nossa!.

Esta matéria não foi publicada por razões óbvias! hehe

O professor sempre está errado quando...

É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.

Não falta às aulas, é um "Caxias".
Precisa faltar, é "turista"
Conversa com outros professores, está "malhando" os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó dos alunos.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.

Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama à atenção, é um grosso.
Não chama à atenção, não sabe se impor.

A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances dos alunos.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.

Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.

O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, "deu mole".

É, o professor está sempre errado mas,
se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!

Identificando arte na minha região: Arte indígena


A região acriana é de uma diversidade cultural riquíssima, porém, poucos sabem realmente que um dos povos que também movimentam o mercado artesanal local são os povos indígenas. Conhecidos por suas lutas pela terra e contra o desmatamento de seu ambiente natural, de onde tiram seu sustento os índios acrianos são protagonistas de muitas feiras de artesanato, onde de maneira bastante particular expõem não apenas o fruto de seu trabalho, mas também o amor pela terra e pela natureza.
Os índios utilizam para confecção de suas bijuterias e artesanato em geral sementes de frutos secos e outros materiais, o que não deixa de ser uma maneira inteligente de aproveitar elementos da natureza que seriam facilmente descartados por qualquer um de nós. Uma forma criativa de nos manter em contato com a própria natureza, já que é dela que provém a matéria prima e a inspiração para tanta criatividade.
Quem nunca usou um adereço confeccionado por sementes e frutos? A técnica é conhecida, o que poucos talvez saibam é que são os índios os artesãos que trabalham na produção de objetos que vão adornar a aparência e a ignorância de pessoas preconceituosas e ironicamente desinformadas.

A percepção do belo na região Norte, relacionado às comunidades indígenas


O belo é tema bastante relativo, principalmente quando o foco é tão polemico quanto à questão indígena. Mesmo em uma sociedade, em que as questões de beleza deveriam ser unânimes, é comum haverem divergências. No entanto, quando falamos em beleza no tocante a cultura indígena alguns aspectos nos saltam aos olhos e são um capitulo a parte na região Norte e na região amazônica como um todo.
Na região Norte é muito comum vermos a produção de objetos de decoração e utensílios tipicamente indígenas serem comercializados nos grandes centros urbanos. A princípio tudo o que era belo para os índios só possuía este status para eles porque era bom e útil. Para os indígenas ‘belo’ e ‘útil’ tem o mesmo significado. Porém, a partir do momento em que a sociedade passou a ver beleza, além de utilidade para os objetos de fabricação indígena, estes passaram a consumi-los em grande escala, logo os indígenas perceberam que aquilo que era produzido por eles tinha um outro significado para outras sociedades, que não era exatamente condizente com os valores étnicos, pois para o homem branco só se tem valor o que pode ser comerciável, mas que bem ou mal era uma forma de manter o sustento, já que a natureza anda tão degradada em virtude da ação do homem.
O homem indígena parece querer de certa forma, freiar ou concertar as atitudes do homem branco em relação à natureza.
Quando pensamos nos rituais indígenas e nos perguntamos qual o significado daquilo, não nos vem à mente que os índios estão pedindo desculpas por nós, por nossas ações pedratórias em relação à natureza e por usarmos indiscriminadamente seus recursos sem a consciência de que outras pessoas também sobrevivem dela.
Neste contexto, os indígenas fazem uso de toda sabedoria e ritos que conhecem para pedir ao deus Sol e mãe Lua, que não os castiguem pela ação dos outros. Que a colheita seja farta e que a terra seja fértil. Na maioria das vezes, a metade do que conseguem colher é ofertado aos seus deuses como agradecimento pela fartura. Muito diferente de nós, que com todo nosso consumismo excessivo não temos a quem agradecer, ou esquecemos de agradecer a quem nos proporciona a nossa fartura.
Esta relação harmoniosa com a natureza é o que garante a beleza admirada por quem está de fora. Tirar da natureza o que se precisa, sem degradar ou destruir, isto sim é que é sustentabilidade.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Conceituando arte...

A introdução do livro ‘A História da Arte’, de Ernest Gombrich é bastante contundente ao afirmar que de fato nada existe a que se possa dar o nome Arte, pois esta é de difícil definição e pode ter inúmeras interpretações. Na verdade muito se discute a cerca deste tema, e o que vem a ser Arte para alguns, para outros não passa de uma obra bela, mas não necessariamente Arte.
Na realidade a arte é cercada de tanta complexidade, que é impossível definir o que faz um indivíduo gostar ou não de uma obra de arte.
Muitos gostam porque percebem algo de familiar na imagem, outros porque são acometidos por lembranças. Algumas formas de arte possuem o poder de mexer com o inconsciente, de trazer memórias, aromas, sentimentos e sensações desconhecidas.
Existem algumas obras que por algum motivo causam desconforto e estranhamento a quem as contempla. Geralmente não lidamos bem com o que não compreendemos. Segundo Gombrich essa seria uma das razões erradas para não se gostar de uma obra de arte. Algumas pessoas acreditam que somente cópias fiéis da realidade é que são consideradas belas obras. Porém, o belo no tocante a arte é bastante relativo e subjetivo. Às vezes a realidade é tão imperfeita que as pessoas buscam nas imagens e nas obras de arte o glamour e a sofisticação que não encontram em suas próprias vidas.
Por outro lado, quando nos permitimos observar e analisar uma determinada obra, ainda que a princípio isto nos pareça repulsivo, desarmados de preconceito e com o espírito aberto, podemos perceber toda a sinceridade nas intenções do artista, e isto é bom, porque ao maquiarmos a realidade com uma suposta beleza, só porque isto agrada aos olhos, perdemos o ato reflexivo e a capacidade de aceitar quem realmente somos.
Amiúde, algumas pessoas preferem imagens cômodas, ou seja, que não exijam nenhuma reflexão e nenhum esforço para se chegar a algum lugar.
Precisamos nos desvencilhar desta visão preconceituosa que possuímos ao contemplar obras de arte, pois estamos sempre a buscar “defeitos” e a desqualificar o que foi determinado como arte por alguém. E este é o ponto que Gombrich aborda ao afirmar que algumas pessoas são repelidas por obras que consideram incorretamente desenhadas, sobretudo quando pertencem a um período mais moderno em que o artista “tem a obrigação de não cometer semelhantes desvios”.
O fato é que precisamos exercitar os nossos olhos para as características particulares das obras de arte e por conseguinte, de aumentarmos a nossa sensibilidade para os mais sutis matizes de diferença, o que talvez nos ajude a compreender por que determinados artistas trabalham de uma determinada forma e não de outra.
Parafraseando Gombrich concluí-se que falar com argúcia sobre arte não é difícil, difícil é olhar um quadro com olhos de novidade e aventurar-se numa viagem de descoberta.

Análise da peça Medeia


Medeia é uma peça teatral do gênero Tragédia, escrita por Eurípides, a qual foi apresentada em público pela primeira vez em 431 a.C. e não foi vista com bons olhos pela sociedade grega da época.
A tragédia Medeia é basicamente uma história de amor, entre tantas que existe, mas com um diferencial inigualável que reúne em um mesmo contexto amor e ódio, conquista e humilhação, vingança e tragédia. Elementos que tornam a trama e seus personagens tão intensos e tão humanos.
A personagem que dá título à trama, princesa Medeia, é uma feiticeira cheia de astúcia e sagacidade que usa seus poderes de magia para ajudar seu amado Jasão a atingir os objetivos aos quais era obstinado.
Jasão almejava recuperar o trono de seu pai e que foi tomado por seu tio Pélias. Jasão tinha como missão encontrar o velo de ouro. Arrebatada pelo amor que sentia, Medeia não mediu nenhuma conseqüência e não teve escrúpulo algum ao tomar atitudes com requintes de perversidade e feitiçaria, com o único intuito de ajudar e fugir com seu amor para longe dos olhos de seu pai.
Mas se Medeia pudesse imaginar o destino insólito que a aguardava, talvez tivesse ponderado em abandonar sua pátria e sua família para viver em uma terra estranha ao lado de Jasão.
A história toma outro rumo após anos de vida em comum com Jasão e dois filhos fruto dessa união.
Medeia deu cabo até mesmo da vida do pai de Jasão, usando seus conhecimentos como feiticeira e seu poder de influenciar pessoas. Na verdade ela não o fez com suas próprias mãos, mas foi ardilosa ao fazer o rei morrer pelas mãos de suas próprias filhas.
Após esse fato bizarro, Medeia, Jasão e os filhos foram expulsos da Grécia, indo viver exilados na cidade de Corinto.
Medeia então sofre o maior e mais terrível golpe que poderia viver uma mulher naquela época. Ela foi traída por Jasão, que a abandonou para casar-se com a filha do rei Creonte, que se chamava Glauce. A partir de então, Medeia passa a viver amargurada e reclusa, tamanha a humilhação publica pela qual o marido a fez passar. Isto para as mulheres da época era morrer em vida, pois elas somente tinham algum valor se fossem casadas, ainda que mal casadas.
Desse ponto em diante, Medeia que já não era aceita pela sociedade, por ser uma mulher que não seguia os princípios de sua época e por ser subversiva, passou então a sofrer com o preconceito e com as injurias daquele povo.
Mas embora sofrendo e se lamuriando terrivelmente, Medeia não se fez de rogada, jurou vingança e foi até as ultimas consequências para cumprir o que prometera.
Medeia precisava atingir Jasão de alguma forma, mas apenas a morte não seria suficiente, ela queria que Jasão pagasse pela sua dor. O primeiro golpe foi matar a noiva envenenada as vésperas do casamento. O segundo golpe e mais macabro de todos foi matar os próprios filhos. Nesse ponto, porém, Medeia se confronta com seus próprios sentimentos. Ela vive às voltas com a angustia da vingança e o amor que sentia pelos filhos. Mas ela era decidida e não se importava em sentir dor intensa, desde que seu propósito de vingança fosse cumprido.
Apesar de a trama envolver sentimentos e características tão peculiares ao ser humano, a peça também tem como pano de fundo a situação da mulher na Grécia antiga e o poder que o homem exercia sobre ela. A peça é um questionamento a essa posição de submissão e anulação que sofria a mulher. Um grito de socorro e liberdade aqui representado na insubordinação e altivez de Medeia.
A personagem era marcada por um intenso sofrimento e indignação por ter sido largada por Jasão, mas nesse sofrimento estão embutidos os problemas de um tempo em que predominava a exclusão da mulher. Neste contexto, tão astuciosamente Eurípides cria Medeia. Uma mulher terrivelmente fascinante e a frente do seu tempo.
As mulheres gregas viviam num regime rigoroso de limitações e a personagem Medeia era livre de pudores e se recusava a seguir os mesmos padrões sociais que todos julgavam correto para uma mulher.
O episódio em que Medeia mata os filhos, mostra um momento de crueldade intensa, mas também nos leva a refletir se esse ato impiedoso é mesmo um ato de vingança, de ódio, ou se simplesmente Medeia quer privar os filhos da vergonha de ver sua mãe subjugada, amargurada e derrotada, ou mesmo morta em conseqüência de seus atos.
Medeia por acaso não estaria querendo poupar os filhos de verem a sua desgraça? Ou querendo poupar até mesmo a desgraça dos filhos?
Poderia haver certa nobreza nesse ato final de Medeia, uma tentativa de proteger os filhos de represálias. Ironicamente, quase um ato de amor, muito mais do que por vingança ao marido infiel. Em se tratando de Medeia, suas demonstrações de amor e afeto não poderiam ser mais imprevisíveis e questionáveis.
Em suma, a saga de Medeia representa em sua essência a busca pela liberdade e pela justiça que todos temos dentro de nós. Pelos direitos que todos julgamos possuir, seja por algo ou por alguém. Quem nunca se julgou proprietário de alguém? Quem nunca agiu irracionalmente? Quem nunca jurou vingança? Quem nunca viveu conflituosamente com dois sentimentos opostos?
A lição que devemos tirar dessa historia? A resposta a essa pergunta é relativa e tão conflituosa quanto à saga de Medeia. O que vale mesmo é ouvir a voz do coração, sem nunca perder a racionalidade.
No fundo há uma Medeia dentro de cada um de nós.

Espaço ritualístico


O espaço ritualístico escolhido para a composição deste trabalho foi o cemitério local São João Batista, que no inicío do mês de novembro é o que melhor representa os rituais típicos da sociedade, devido a grande comoção em função da data que se dedica aos mortos, o chamado dia dos finados. A maior parte do ano o cemitério é meio que abandonado, mas quando se aproxima novembro os familiares, a comunidade e até as autoridades locais começam a se manifestar para transformar o espaço num lugar mais bonito e porque não dizer, atrativo, já que a data em si atrai multidões dos municípios vizinhos que vem ao local para visitar seus mortos. O cemitério em questão é simples e fica localizado num bairro nobre da cidade; possui duas entradas e uma escadaria que dá acesso ao portão principal. Em seu interior existem algumas capelas construídas por famílias mais nobres da sociedade para dar abrigo aos seus mortos e reunir a família para missas e orações. Existem também túmulos muito bonitos e conservados, adornados por coroas de flores, algumas naturais, outras não. Este aspecto torna-se bastante curioso, pois se percebe através deste fato que as tradições e os rituais não estão mais sendo cumpridos rigorosamente como acontecia no passado. O velho hábito de ir ao cemitério e levar flores para adornar os túmulos dos entes queridos está sendo substituído em função da praticidade. Hoje em dia percebe-se muitos túmulos e capelas adornadas com flores de plástico e materiais reciclados, o que nos leva a crer que as velhas lendas e tradições não existem mais, talvez em função da vida corrida, ou mesmo em função da descrença de certos costumes. O fato é que os rituais continuam, mas as praticas mudaram, bem como os símbolos representativos desta atividade. No local também há sinal de depredação e abandono. Foi-se o tempo em que cemitério era um local sagrado, que não se podia profanar. O respeito aos mortos deu lugar a banalidade. Nos cemitérios urbanos, dificilmente se vê aquelas decorações efêmeras de riquíssimo valor simbólico com cálices, cruzes e resplendores delineados com flores e preenchidos com pétalas, a não ser que a data seja propicia. Era bonito de se ver no passado as flores que davam um colorido especial ao ambiente, mas que em pouco tempo secavam e amontoavam; as velas que iluminavam o local, na esperança de iluminar também o caminho daqueles que amávamos... Flores, velas, beleza, feiúra... Uma alegoria da própria vida. O símbolo mais freqüente são as cruzes, das mais simples as mais exuberantes. Elas não faltam jamais, pois é uma alusão de que o ente que se foi possa estar mais perto de Deus, vivendo no outro plano em paz e uma forma natural de perpetuar a memória daqueles que não estão mais entre nós. Alguns acreditam que velas, flores, cruzes e outros elementos deste tipo são símbolos da morte, mas para os que lidam todos os dias com a morte, ou com o ambiente em si, estes símbolos representam apenas nossas tentativas rituais de ultrapassar esta realidade incontornável. Em suma, este ritual praticado, por vezes mistificado, é mais uma forma que os indivíduos encontram de lidar com a morte, de superá-la, de contorná-la de alguma forma. Já que não é mais possível estar presente na vida dos que se foram, sua lembrança é substituída pelos símbolos de sua presença. O cemitério é enfim, não apenas o local onde a sociedade deposita seus mortos, mas é também um local para refletir sobre quão efêmera e passageira é a vida, sobre como temos dificuldade para lidar com este momento tão temido e inevitável, talvez, cuidando e zelando pelos nossos mortos, estamos garantindo que façam o mesmo por nós, onde quer que estejam.

Sebastião Salgado


Sebastião Ribeiro Salgado, economista, jornalista e fotografo é mundialmente conhecido por seu trabalho de uma sensibilidade única e estética perfeita. Reconhecido também por sua dedicação em mostrar ao mundo a realidade de vida das pessoas socialmente excluídas.

Sebastião Salgado retrata em seu trabalho as condições de vida miseráveis em que vivem os povos da África, Angola, Etiópia, Afeganistão e outros lugares do mundo em que as condições de vida são precárias. Além de retratar em suas obras os sentimentos, as reações e as diferenças da humanidade, ele o faz de uma forma muito particular e especial.

Com toda sua dedicação em mostrar a situação de abandono destes povos, seu trabalho resultou na publicação de dez livros com temas igualmente polêmicos, como ‘Os pobres na América Latina’ e ‘O homem em pânico’. Seu trabalho representa a luta pela sobrevivência e pela subsistência, carregado de um forte apelo emocional, sensibilizando a humanidade para a realidade cruel de povos excluídos e massacrados pela sociedade capitalista.

Além de ter sido merecedor de todos os principais prêmios de fotografia do mundo, Salgado demonstra não apenas se importar em mostrar as dores do mundo em seu trabalho, mas também faz um apelo ao altruísmo sem demagogia.

Leitura de imagem: Fotografia Ethiopia de Sebastião Salgado

Ao nos depararmos com uma imagem tão impactante, imediatamente nos questionamos qual seria a real intensão do artista ao retatá-la.

Comumente o que buscamos em uma imagem e em obras de arte em geral é a tão famigerada beleza. Mas o que supostamente prende nosso olhar não é necessáriamente o que consideramos naturalmente bonito, mas a beleza subjetiva implicita na imagem.

A beleza está na sensibilidade extrema captada pelo autor ao retratar a sutileza dos detalhes, sentimentos e emoções que são percebidas em um único olhar.

A imagem é ao mesmo tempo agressiva e sensivel, suave e deprimente. Desperta sentimentos confusos e difusos.

Somos envolvidos pela tristeza nos olhos da mulher e arrebatados pela beleza que cerca esta obra, pelo ar de mistério e melâncolia, num misto de revolta e compadecimento pela humanidade.

Esta imagem, com toda sua simplicidade retrata o sofrimento de um povo, a luta pela vida, pela sobrevivência e pela esperança.

Além de toda dor percebida, a esperança também salta aos olhos, da imagem e aos nossos.

Alguém já disse certa vez que quem ama o feio, bonito lhe parece. No entanto não discutimos aqui padrões de beleza nem superficialidades. O conceito de beleza aqui representado é bem mais amplo e infinitamente complexo.

Platão acreditava que certas formas de arte eram uma imitação grosseira de um mundo ideal superior. Todavia, o que Sebatião Salgado nos apresenta através de seu trabalho representado nesta imagem é uma realidade chocante e cruel. Nos transforma em vitimas de nosso próprio egoísmo e egocentrismo.

Muitos olharão esta imagem e sentirão um completo desprezo; desprezo não apenas pela obra em si, mas pela própria vida humana, pela situação de completo abandono em que vivem as comunidades pobres do mundo, incapazes de um gesto de solidariedade, omissos e alheios a dor de povos vizinhos.

Mesmo em preto e branco a imagem é carregada de cores, de emoção e de sensibilidade. Tras as cores de uma esperança que renasce a cada amanhecer. Aparenta um profundo respeito a dignidade humana e um claro protesto silencioso mas profundamente impactante contra a violação desta dignidade, ocasionada por fatores sociais, políticos e econômicos que transformam o homem em germe de sua própria destruição.

A raça humana, embora se divida em cores, linguas, culturas e nações continua sendo uma só, apenas as oportunidades não são as mesmas, as condições de vida não são as mesmas, mas os ideais de liberdade, de soberania, de sobrevivência, de luta, de vitória e de conquistas são os mesmos em todas as etnias.


O mundo na Idade Média

Durante a Idade Média, que durou do século V ao século XV, o mundo viveu sob forte influencia da Igreja Católica. Nada conseguia escapar aos seus olhos atentos e as suas leis severas. Tudo era dominado por ela, inclusive a fé e o comportamento das pessoas.

A Igreja detinha todo o poder, inclusive sobre o conhecimento. As pessoas eram privadas do livre arbítrio e não tinham acesso aos livros, pois se descobrissem que somente a fé não era capaz de explicar tudo, passariam a buscar respostas na ciência e a Igreja perderia o respeito e a autoridade. Por este motivo mantinha a sociedade alienada em sua própria fé e presa a sua ignorância.

Neste período considerado das trevas, Deus era representado pela Igreja como um ser impiedoso e vingativo com os que porventura fossem contra ela. Daí tanto temor e submissão a uma entidade que era capaz de julgar e condenar em nome de Deus.

Homens e mulheres eram impiedosamente assassinados em nome da honra desta Igreja. No tribunal da Santa Inquisição o veredicto era queimar vivos os que professassem outra fé, ou que não vivessem segundo os preceitos da Igreja.

Desta forma não havia fé. Havia um verdadeiro pavor. E com isto a Igreja mantinha seus fieis, através do medo e da repressão absoluta.

A arte na Idade Média

A Igreja tinha influencia absoluta sob todos os aspectos da vida humana, inclusive nas esferas sociais, políticas, econômicas e culturais da sociedade. Com isto a arte medieval também foi influenciada, recebendo como temas principais a religião como fonte de inspiração. E não podia ser diferente, pois o clero católico supervisionava de perto as produções artísticas, para que nada fugisse a regra do que a Igreja considerava “politicamente correto”.

Os artistas da época não podiam expressar suas idéias, pois eram retaliados pela Igreja.

Desta forma, esculturas, pinturas em geral, livros, obras arquitetônicas, tudo tinha que ter o aval da Igreja. Inclusive o padrão de beleza e harmonia de esculturas era predeterminado por ela, ou seja, as obras precisavam representar o cânon da beleza, pois era um padrão de beleza divina, devidamente aprovada pela Igreja.

Os temas abordados nas obras variavam entre a vida de cristo e dos santos e também passagens bíblicas.

A arquitetura das igrejas, por exemplo, precisava ser forte para transmitir uma idéia de confiança.

Como naquela época muitos eram privados de ler, a Igreja utilizava pinturas e esculturas para contar historias sagradas e evangelizar.

Biografia de Christian Boltanski


Boltanski é um artista plástico autodidata que combina várias técnicas em sua obra, dentre elas a pintura, o cinema, vídeo, performance, instalações e fotografias, numa instigante combinação de elementos que transforma seu trabalho em algo único e inovador.

Boltanski é um artista contemporâneo que se inspira na arte medieval para compor seu trabalho, o que resulta em impactantes imagens e instalações inusitadas.

Este artista propõe uma constante reflexão sobre a forma tradicional de se fazer arte, criticando o “politicamente correto” e dando uma visão mais critica a cerca do mundo, misturando técnicas e elementos não convencionais.

Boltanski utiliza acontecimentos e fatos históricos para compor o que ele considera de embate entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o moral e o imoral, entre nossas percepções e julgamentos, convidando o espectador a reviver sua própria historia, analisar seu passado e o contexto em que está inserido, para a partir daí recriar uma nova imagem do mundo e de si mesmo.

Reutilizando e transformando materiais, o artista vai modelando a vida do homem comum, para que cada um possa se ver e se identificar de alguma forma com suas obras. Assim como o homem se reinventa e se adapta a situações, Boltanski vai adaptando e reinventando algo já preestabelecido e empregando significado, sentimento e afetividade, de modo que sua marca maior é a preocupação com os sentimentos humanos, com o subjetivismo, representando a morte para celebrar a vida.

Obras de Boltanski: Instalações_ Altares dedicados aos mortos, inspirados nas obras e arquitetura de igrejas medievais.




As obras de Christian Boltanski são bastante impactantes e polemicas. A proposta de Boltanski é questionar o papel do individuo na sociedade contemporânea e trazer a luz debates importantes sobre temas polêmicos que afligem a sociedade, mas que são de alguma forma mistificados.
A morte é tema constante em suas obras, talvez pelo fato do artista gostar de representar os sentimentos humanos, a morte é retratada como um ritual, uma passagem pela qual nenhum ser humano é indiferente.
Boltanski utiliza a imagem de forma que sintamos certa familiaridade em relação a ela. Suas instalações nos remetem a templos sagrados medievais, embora sua pretensão não seja fazer apologia à religião. Seu estilo é intrigante, despertando duvidas e questionamentos.
Ao utilizar fotografias em suas gigantescas instalações, geralmente utiliza a abstração da morte como representação maior da vida. A atmosfera religiosa da Idade Média empregada em suas obras faz com que o espectador sinta certa reverencia ao contemplá-las, momento este em que Boltanski espera atingir o máximo da reflexão e da emoção.
Desta forma, o que difere Christian Boltanski dos demais artistas plásticos é que ele não pretende impor em suas obras concepções próprias, ao contrario, ele busca inspiração no outro, para que as pessoas possam se refletir, se identificar e compartilhar de sua visão de que a arte pode ter muitos significados, mas que o principal deles é que cada um possa se sentir parte do processo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Narrativa crítica 1

Volta e meia esta pergunta nos vem à mente: “Qual a necessidade social e a base filosófica para que a arte tenha um lugar tão importante na nossa educação?”.
Vivemos um tempo de distorção de valores e banalidades onde a educação é percebida como única saída digna para que o homem não perca sua função social.
Pensando nas práticas históricas do ensino de artes visuais, são várias as vertentes que partem do princípio da representação da nossa realidade.
O desenho, dentro deste segmento da cultura visual é uma forma de materializar idéias e pensamentos, posto que o desenho seja um excelente meio de comunicação transmitindo conceitos e valores.
Trabalhei por dois anos e meio num programa socioeducacional voltado para crianças carentes e com algum tipo de defasagem escolar. Neste programa as crianças chegavam sem nenhuma perspectiva de autoestima. Não confiavam em seu poder criativo nem no poder transformador do autoconhecimento.
Ao terem contato com o desenho, não do jeito que elas conheciam, mas no ato de desenhar explorando os próprios sentimentos, a própria individualidade, a subjetividade, não podemos afirmar que os problemas de defasagem ou de mau desenvolvimento escolar desapareceram, mas compreendemos então que muito do insucesso daquelas crianças era fruto de um lar desestruturado onde não havia espaço para o diálogo.
A partir do envolvimento delas com as práticas do ensino das artes através do desenho a barreira do silêncio desapareceu, porque elas podiam enfim falar o que lhes aprisionavam através do desenho. E principalmente, podiam ser ouvidas sem criticas ou constrangimentos.
Desenho é a expressão dos sentimentos e enquanto educadora precisava ser sensível a isso. Desenhar é basicamente criar, partindo de algo que a mente humana restabeleceu de forma crítica. Desta forma, quando desenhamos, além de expressar o que pensamos, estamos pensando formas, pois usamos nossa percepção e nossa memória visual para criarmos tais elementos. Estas formas seriam nossas reflexões sobre o mundo, sobre nossos medos, angústias, vontades, sensações e anseios.
Logo, esta prática histórica do ensino de artes visuais que compartilhei, garantiu não apenas minha contribuição na vida de outras pessoas, mas também na minha própria vida, pois me despertou o gosto e a sensibilidade por esta prática.
Acredito que todo indivíduo desenhista, pintor, autor, ao compor uma obra incorpora os elementos de seu meio social e cultural às suas imagens, pois se o desenho é a representação gráfica da realidade, logo o ambiente cultural em que vivemos influencia diretamente na composição de nossos desenhos e imagens. Nosso contexto social tornam-se a base de nossas criações.
Segundo Belidson Dias, em seus escritos essenciais, desde a pré-história o homem tem a necessidade de descrever o seu mundo, expressar-se e registrar suas idéias.
“Os símbolos foram os meios pelo qual o homem conseguiu sair do estado animal de inconsciência, para a primeira fase de consciência”. Baseado nisto é que acredito fielmente que esta prática possa libertar os indivíduos de seu estado de inércia para um estado de reflexão e ação.
“As artes refletem as idéias filosóficas de uma determinada época, assim como também são utilizadas para promover valores de uma sociedade”.
Desta forma concluo que nenhuma prática visual representa melhor esta citação de Belidson Dias do que a prática do desenho, pois como ele mesmo se refere “o maior produto social do ensino de arte não são os trabalhos de arte e sim a formação de um tipo de pessoa que seja capaz de apreciar a arte com uma atitude crítica e que seja capaz de transformar a sua experiência estética em algo positivo para a sua vida e para a sociedade”.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Será que de fato somos seres civilizados?


A pergunta parece simples e muitos responderiam ‘sim’ facilmente. Mas sejamos um pouco mais reflexivos e pensemos honestamente na condição do homem na sociedade contemporânea.
No que divergimos do homem paleolítico? Em que somos melhores?
Julgamos-nos tão infinitamente superiores, que do alto de nossa arrogância não nos damos conta do quanto somos individualistas e materialistas.
Do que adiantou nossa “evolução” para séculos mais tarde descobrirmos que temos mais em comum do que poderíamos supor com os nômades da época? Ironicamente, algumas características e valores morais não evoluíram.
Tanta tecnologia, tantos avanços econômicos, culturais, políticos e etc.; tantos recursos a nossa disposição e ainda acreditamos que ao ferir uma pintura ou imagem podemos de fato ferir nosso semelhante. Imagine o que o homem paleolítico não faria com uma câmera fotográfica e a alma humana!
Ironias a parte, nunca o ser humano foi tão atingido por seu próprio individualismo como na era em que vivemos. Os valores do pós-modernismo corroem o limite do bom senso, do senso de coletividade e de colaboração.
Os homens paleolíticos competiam por pura necessidade de subsistência. A sociedade atual não é muito diferente, porém o que os motiva é a ganância, é a ambição, é a necessidade de possuir o que o outro tem.
A competição é meramente para satisfazer o ego e a vaidade.
O dicionário define ‘civilidade’ como conjunto de formalidades adotadas para demonstrar mútuo respeito e consideração; polidez, cortesia. Frente a isso nos perguntamos então onde está o homem civilizado. Em qual processo ele se perdeu? Pois o que vemos em nossa era é um profundo desrespeito a condição humana e aos valores éticos.
Vivemos na cultura do consumismo excessivo e isto não significa que nosso “processo civilizatório” nos transformou em seres que podem prover a própria subsistência, mas sim em seres que precisam ostentar para só assim obter respeito, consideração e cortesia.
Analisando todo esse processo pelo qual o homem vem passando, não podemos prever qual será seu futuro se os valores também não forem transformados. Neste contexto, o que esperamos é que se não pudermos ser mais sociáveis, menos individualistas e menos capitalistas; se não pudermos finalmente afastar o homem “primitivo” de nosso eu interior para assumirmos uma postura de homem “civilizado”, que ao menos nossos valores, conceitos e princípios morais não sofram uma regressão ainda maior, para que não sejamos eternas vitimas de nosso próprio egoísmo e de nossa própria intolerância.

E que tal essa tentativa frustrada de auto-retrato??


Não é pra rir, mas fui obrigada a compôr esta suite de desenhos, quando na oportunidade cursava a disciplina Ateliê de artes visuais 1






















O ato de desenhar


Uma coisa é incontestável: quando desenhamos estamos sim dando forma aos nossos pensamentos visuais, de modo que cada desenho posto no papel é uma representação da realidade. Quando desenhamos estamos materializando idéias e sentimentos. Estamos transmitindo conceitos e valores, posto que o desenho seja um excelente meio de comunicação.
Desenho é a expressão dos sentimentos e enquanto arte-educadores precisamos ser sensíveis a isso. Aliás, sensibilidade é requisito fundamental neste processo de criação, pois é necessário captar elementos da realidade e transmiti-los através de imagens e isto muitas vezes não é fácil. Talvez esta seja uma das maiores dificuldades de quem tenta transmitir idéias através de desenhos. Desenvolver a sensibilidade não é fácil, porém é essencial para quem faz do desenho a arte da comunicação. Por este motivo é de fundamental importância que o arte-educador reconheça em si próprio a capacidade de exercer o ato criativo de forma natural, pois o arte-educador que vive e respira a linguagem gráfica dificilmente cometerá erros grosseiros na interpretação de um desenho realizado por algum aluno.
Certamente que a disciplina História das artes visuais, para a qual produzi o presente trabalho, através de suas atividade complexas, não teve como objetivo principal formar exímios desenhistas, mas estimular a formulação de novos conceitos básicos, fornecer técnicas de desenho, pintura, sombreamento, elementos lineares, composição de cores, estilos e formas, que com toda certeza servirão de base para nossa formação profissional.
De alguma forma uma semente foi plantada. Alguns a cultivarão e aperfeiçoarão as técnicas apreendidas, outros internalizarão os conceitos e serão excelentes leitores de imagens e de obras de arte como um todo.
Quando damos forma a algo estamos atribuindo-lhe um significado, estamos reformulando e reinterpretando conceitos. Desenhar é basicamente criar, partindo de algo que a mente humana restabeleceu de forma critica. Desta forma, quando desenhamos, além de expressar o que pensamos, estamos pensando formas, pois usamos nossa percepção e nossa memória visual para dar formas, e de certa maneira somos nós mesmos o ponto de referência de todas as nossas criações. Estas formas seriam nossas reflexões sobre o mundo, sobre nossos medos, angústias, vontades, sensações e anseios.
Neste sentido, o ‘dar forma’ vai além de criar ou meramente modelar algo. Dar forma é expor para o mundo externo a beleza ou a complexidade do mundo interno, do ‘eu’ interior.
Acredito que todo indivíduo desenhista, pintor, autor, ao compor uma obra incorpora os elementos de seu meio social e cultural às suas imagens, pois se o desenho é a representação gráfica da realidade, logo o ambiente cultural em que vivemos influencia diretamente na composição de nossos desenhos e imagens.
Nosso contexto social, nossas raízes culturais tornam-se a essência do nosso trabalho, a base de nossas criações.
Segundo Edith Derdyck é fundamental que o arte-educador reconheça em si a capacidade de exercer o ato criativo de uma forma tão natural quanto comer, dormir e sonhar, pois um ser humano socialmente produtivo precisa desenvolver esta potencialidade, que é útil tanto na vida pessoal quanto profissional.
O ato criativo auxilia na resolução de problemas cotidianos, além de desenvolver o equilíbrio e o controle da mente, características essas essenciais para um educador, independente da sua área de atuação.
Particularmente, ao exercer o ato criativo, com certeza sou influenciada pelo meio social em que vivo, pelas relações subjetivas, interpessoais, pela ligação com o meio cultural, etc.
Certamente, é inevitável que os sentimentos influenciem nossos desenhos, pois de alguma forma, o desenho é parte de nós, é uma metade que se liberta, que se desprende de nosso interior e se faz ser ouvida. Desenho é um pouco da alma da gente.
Não há como não nos envolvermos integralmente em nossas atividades criativas. Não há como separar o lado emocional do processo criativo. Uma coisa está intimamente ligada à outra.
A vivência da linguagem gráfica durante este período foi profundamente enriquecedora. Ter contato com obras de pintores renomados e ainda ter a honra de interferir nelas foi uma experiência de pura reflexão e busca pela própria essência, pela própria identidade.
Analisar uma obra de arte trás a tona sentimentos e sensações que nós próprios desconhecemos. E ao interferir nelas graficamente e sentimentalmente falando, acabamos colocando elementos da nossa própria sensibilidade, acabamos sendo influenciados por esses sentimentos que estas obras nos despertam e além de interferir, acabamos por fazer composições bem pessoais, ocasionadas pelas lembranças adormecidas que elas trazem a tona.
Nossos trabalhos, nossas composições artísticas em geral passam pela interdisciplinaridade entre arte e outras áreas do conhecimento, pois uma obra é um conjunto de muitas coisas, de muitos acontecimentos e fatos. São influenciadas inclusive pelo momento histórico em que vivemos, deste modo há sim uma enorme conexão entre a arte e nossas convicções políticas, sociais e culturais. Além de discutir a arte pela arte, sua estética, composições e formas, uma obra ou um desenho podem desencadear uma serie de discussões inerentes ao tema, além das intenções do autor.
O interessante da arte é isto. Justamente unir várias áreas do conhecimento humano e incitar reflexões.
Particularmente, ao exercer o ato criativo, tento discutir a realidade e buscar novas possibilidades de percebê-la, de senti-la, de refleti-la.