segunda-feira, 18 de julho de 2011

Poéticas do intimo: Memorial descritivo (Exposição)


A arte contemporânea está intrinsecamente ligada aos acontecimentos, movimentos, modismos e circunstâncias do cotidiano. A Supermodernidade, definida como atual sistema mundial, se encarrega de trazer para essa arte subsídios, recursos materiais e imateriais, ideologias, significações e representações através da simbologia e signos desta era.
No Sistema em que vivemos só o que você consome é o que interessa, não importa a sua visão sobre política, religião ou valores morais. “Você é o que consome”. Esta frase batida, nunca esteve tão atual como em nossos dias. Vivemos na cultura do consumismo, no caos do capitalismo, na civilização da tecnologia, da globalização e da banalidade. Dentro deste Sistema, não possuímos uma identidade, somos vistos e treinados pelas mídias para sermos iguais, pensarmos iguais, nos comportarmos iguais, nos vestirmos e consumirmos as mesmas coisas. Somos robotizados e padronizados.
Não somos vistos pelas indústrias e pelas mídias como seres pensantes, somos vistos como uma espécie de mercadoria, como cabides ou vitrines humanas para divulgar seus produtos e marcas.
A arte se apropria destes elementos utilizando distintas linguagens como ferramenta de critica social a superexposição, alienação midiática, consumismo excessivo e superficialidade a que somos acometidos.
Neste contexto, a Assemblage se apresenta como uma linguagem multifacetada. Diz respeito a um gênero da arte que trabalha com diversos objetos e materiais próprios do cotidiano. Ou seja, o artista se vale dos próprios objetos vendidos pelas mídias para protestar e criticar contra essa atitude de tentar padronizar os indivíduos tal quais os serviços e produtos que anunciam.
Esta linguagem vai alem da mera colagem, visando romper definitivamente a fronteira entre arte e vida cotidiana empregando elementos retirados da realidade - pedaços de jornal, revistas, papéis de todo tipo, tecidos, madeiras, objetos etc., libertando o artista de certas limitações da superfície.
Muitos artistas de várias épocas trabalharam com esta temática, Marcel Duchamp e Pablo Picasso, Farnese de Andrade, Vik Muniz, José Rufino, dentre outros renomados. Busquei incorporar em minha produção características que remetessem a concepção e reflexão do trabalho destes artistas, mas que tivesse uma personalidade muito própria, que falasse ao público de uma forma direta, que causasse algum impacto ao primeiro contato visual do espectador com a obra.
Partindo deste principio, utilizei caixa de papelão de supermercado medindo 50 centímetros de comprimento por 30 de largura, revestido por dentro com papel cartão preto, recortes de revistas, papel branco, sacolas descartáveis e dinheiro falso, uma nota de 50 Cruzados Novos e moedas de Real. Já que o Sistema Capitalista é tão antigo e nos usurpa de todas as formas era preciso algo que tivesse essa representatividade, envolvendo tanto o passado quanto o presente.
Durante todo o processo de criação da obra ‘Padronização’ tinha em mente o que queria representar e a critica que pretendia fazer, mas a forma como apresentá-la não nasceu do dia para a noite. A princípio pensei em recortar os personagens de revistas e cortar as cabeças, mas de repente num ‘insight’ resolvi apenas cobrir-lhes o rosto com um papel branco, pois a representatividade da perca de identidade seria maior.
A obra precisa ser observada de todos os ângulos para ser compreendida. À medida que o espectador vai girando em torno dela, ele vai percebendo que a critica gira não apenas em torno do Sistema, mas também do próprio homem que se deixa envolver e dominar por suas teias.
No momento da exposição no Pólo de apoio presencial, a obra foi colocada sobre um suporte redondo de madeira de modo que facilitasse a circulação do público e ficasse em uma altura razoável. As pessoas podiam tocá-la, girá-la para observá-la melhor em todos os seus ângulos, interagindo com a obra.
Esta forma de fazer arte utilizando objetos comuns costuma falar mais ao público, pois induz ao questionamento, a repensar a função dos objetos e sua simbologia, uma vez que a mesma sai das paredes das galerias e aproxima-se da realidade das pessoas, trazendo reflexões sobre o mundo e a sociedade em que estamos inseridos.




Imagens da Exposição


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