segunda-feira, 18 de julho de 2011

Como se manifesta o impacto pessoal e público dos “lugares” na nossa compreensão das identidades visuais trazidas pela experiência da cultura visual da Arte Rupestre no Brasil e nas Artes Indígenas e Barrocas brasileiras?

Se observarmos os principais períodos históricos que marcaram a história da civilização, e, muito particularmente a história da sociedade brasileira perceberemos que a arte compreende todas as peculiaridades e tradições sobre o seu lugar de origem, indiferente do tempo e do momento histórico em que foi concebida.
A história cultural de um lugar, neste caso o Brasil, é transformado e mantido através de relações sociais, e isso está revelado na arte rupestre, na arte indígena e barroca brasileira. O que cabe analisar aqui é como se manifesta o impacto pessoal e público dos “lugares” na nossa compreensão das identidades visuais trazidas pela experiência da cultura visual das já citadas representações artísticas.
É sabido que em determinado momento, o homem deixou de lado a passividade e passou a ser agente da própria história. Momento em que através das próprias mãos começou a criar a arte, ainda que inconscientemente, registrando o que futuramente, seria a chave para a compreensão de como surgiu a civilização, como interagiam os povos e como se deu o processo de mudanças que evoluiu para o que conhecemos hoje por sociedade contemporânea.

Arte rupestre
Uma das características mais marcantes deste período foi o desenvolvimento de códigos e sinais que permitiram ao homem registrar os acontecimentos de sua época, o cotidiano da população, os atos administrativos, a religião, culminando mais tarde na invenção da escrita, uma forma de comunicação que praticamente separou a pré-história da História. A arte rupestre é realmente impressionante, de uma simbologia única, que desencadeou uma série de outros signos fundamentais para o desenvolvimento e fortalecimento das relações sociais e comerciais.
As pinturas rupestres podem ser encaradas como ações sociais, uma vez que esta era a única forma de registrar sua história, sua cultura, suas idéias, seus valores morais, éticos e até mesmo políticos, fatos que eram registrados visualmente falando. Muito provavelmente práticas educativas também estariam incluídas como uma das ações sociais executadas pelo homem da pré-história. Estas pinturas nos contam não apenas que existia uma espécie de organização social, mas nos mostram também a preocupação com as relações interpessoais, em manter a própria história bem como a própria sobrevivência.
As chamadas gravuras rupestres eram uma forma de comunicação entre eles, mas é também o que melhor conhecemos como representação de arte da época, ainda que não tivessem ciência disso. O sistema de comunicação entre eles era o desenho, porém, dentro do contexto social em que viviam era uma linguagem que podia ser facilmente assimilada.

Arte Indígena
O que mais chama atenção na cultura indígena é que eles não reconhecem o que fazem como arte. Para eles o belo é aquilo que tem utilidade, logo, os adornos coloridos feitos de sementes, a pintura corporal, a arte plumária e outras das quais temos conhecimento não servem apenas para enfeitar o corpo, mas existem por ter uma simbologia especial para eles.
Embora os povos indígenas continuem com suas crenças na natureza, o sistema capitalista e celetista ao qual nos integramos acabou por atingir também estes povos que até então viviam isolados sobrevivendo do que a natureza lhes fornecia. Infelizmente o progresso e o uso indiscriminado dos recursos naturais por parte de povos considerados civilizados culminaram no comércio do que até então eram apenas hábitos culturais puros e simples. Estes povos sofreram um processo de aculturação, que transformaram os rituais indígenas em espetáculos comerciáveis, em detrimento da pura manifestação cultural livre e despretensiosa.
A partir do momento em que os conquistadores invadiram o Brasil, iniciou-se um processo de aculturação que se tornou irreversível, através da inserção de valores e costumes ocidentais na cultura e nos hábitos do homem indígena.
Quando os europeus chegaram ao Brasil, eles se quer consideraram a idéia de que os índios fossem também homens iguais a eles, uma vez que os tratavam como animais que precisavam ser ‘domesticados’. Considerar a cultura indígena como arte também exigia certo esforço dos europeus, pois os hábitos eram totalmente diferentes, gerando o que muitos chamam de choque cultural.
A arte existia e era genuína, natural, sem qualquer contato com recursos ou materiais industrializados, mas, com o convívio direto dos indígenas com o homem europeu, estes passaram a incorporar outros elementos aos seus costumes. Passaram a vestir roupas e incluir outros materiais ao artesanato, como miçangas de vidro, linhas, borrachas e outros artefatos, deixando de lado o modo tradicional de confecção da arte e do artesanato. Hoje não é nenhuma novidade ver trabalhos indígenas confeccionados com vidrilhos, linhas de nylon, ferros, materiais emborrachados, em detrimento de materiais sustentáveis, como palha, sementes, penas, barro e cipós, descaracterizando assim a genuína arte indígena, livre da influência do mundo ocidental.
Com tudo isso, a arte indígena do século XVII vista e descrita pelos europeus difere e muito da arte indígena contemporânea vista hoje pelos brasileiros. Com a influência do mundo ocidental, o consumismo também passou a fazer parte das “necessidades” do homem indígena e atualmente, com a escassez de produtos naturais, tanto para o próprio sustento quanto para a confecção de sua arte/artesanato, os indígenas passaram então a adquirir material industrializado para fabricar o artesanato e vendê-lo ao homem branco para sustentarem suas famílias. O que antes era apenas beleza e tradição virou simples moeda de troca.

Arte Barroca
O Barroco surgiu na Itália, no final do século 16 e atingiu toda a Europa e as Américas durante os séculos 17 e 18. Nesta mesma época o estilo chegou ao Brasil. Diz-se que “na arte barroca predominam as emoções e não o racionalismo da arte renascentista”. (Extraído do site: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100806151325AALeYBG, acesso em: 02 de Abril de 2011). Porém, chego a discordar dessa afirmação encontrada neste e em muitos outros sites onde é possível encontrar esta mesma afirmativa. O homem vivia sim um conflito interno, onde travava uma luta com o seu ‘eu’ interior e o mundo externo, mas havia a questão da Igreja querer estar sempre no centro de tudo, então, ninguém mais além dela, tinha tanto interesse em propagar o movimento barroco
A julgar por este interesse, se não fosse pelo poder de persuasão da Igreja, acredito que a arte barroca não teria a expressividade e o reconhecimento que obteve somente através das mãos de escultores como Aleijadinho e Agostinho de Jesus. Não desmerecendo de forma alguma o talento dos artistas brasileiros, mas, a Igreja tinha grande interesse em propagar e difundir esse movimento, pois era uma forma de se manter presente na vida da sociedade.
Como acontecia na chamada ‘idade das trevas’, antes do Renascimento, a Igreja queria continuar alienando as pessoas através da fé. A arte era útil para essa finalidade, pois podia explorar bastante algumas passagens bíblicas, bem como a vida dos santos, segundo a Igreja. Dessa forma, com o aval da mesma, os artistas iam ganhando reconhecimento e o catolicismo continuava sendo propagado aos quatro ventos, exercendo o poder que sempre foi acostumado a ter. Visto desta forma, pode-se afirmar que o Brasil ainda é sim um país Barroco, pois se caracteriza pela presença de um povo que vive em conflito com suas crenças e seus valores, (antropocentrismo x teocentrismo).
Tentando estabelecer relações da Arte Barroca com minha própria comunidade ou mesmo com minha vida pessoal, penso que, assim como o Barroco manifesta uma tensão entre o gosto pela materialidade e as demandas de uma vida espiritual, não é diferente que a maioria das sociedades viva estes conflitos internos.
Por outro lado, não enxergo que na sociedade na qual estou inserida exista outra característica barroca que não a citada, pois na minha realidade não existe nenhuma obra que se caracterize pela monumentalidade das dimensões, opulência das formas ou excesso de ornamentação, característicos das obras barrocas. No entanto, no geral, o povo brasileiro carrega características barrocas, pois essa arte possui caráter fortemente religioso e uma das características mais marcantes do povo brasileiro é ser extremamente ‘religioso’, ainda que viva em constante conflito com seu próprio materialismo.

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