sexta-feira, 9 de julho de 2010

O estado do Ensino das Artes Visuais

O objetivo do ensino de artes visuais na escola de hoje é formar indivíduos social e politicamente conscientes de seu papel e seu lugar na sociedade do século XXI. Muitos diriam que não, que a arte/educação visa despertar a criatividade, o senso de estética, a sensibilidade, a subjetividade, a liberdade e a expressividade. Mas como incumbir o ser humano de todos estes atributos sem a construção do pensamento critico que leva o homem a reflexão de seu real papel na sociedade, como agente de transformação, não apenas social, mas político, cultural e consequentemente educacional?
Mas nem sempre este foi o objetivo do ensino das artes. Houve um tempo em que a arte era utilizada como ferramenta para doutrinar os indivíduos para que estes não fossem capazes de pensar por si mesmos, antes, eram obrigados a acreditar que tudo estava voltado para Deus e que não existia outra forma de aprender, além daquela imposta com pressupostos religiosos e alienação através da fé. Esta era a função da arte na Idade Média, que até era utilizada como instrumento pedagógico, porém, com outro tipo de ideologia, que não tinha uma posição igualitária nem construtivista em relação ao conhecimento.
Vale ressaltar que a arte/educação não objetiva formar artistas, e sim, ampliar a capacidade criativa e perceptiva do aluno, bem como possibilitar que ele conheça a linguagem artística e tenha um olhar sensível para o mundo que o cerca, aprendendo a representá-lo, de modo que a organização pedagógica destas relações artísticas e estéticas seja trabalhada de forma conjunta com o aluno a ponto de ele próprio reconhecer sua importância na sociedade.
As perspectivas atuais para o ensino de artes visuais apresentam uma diversidade de caminhos a serem seguidos no tocante às praticas de atuação nos mais distintos contextos educacionais. Acontece que nem toda escola está preparada para lidar e corresponder às complexidades e as mudanças tão repentinas no contexto cultural da sociedade contemporânea.
Os problemas metodológicos do ensino de artes visuais são muitos e é pauta de discussão nas instituições de ensino da atualidade, pois questiona-se ainda muito o que se deve ou não ser trabalhado em sala de aula no ensino das artes visuais e quais as melhores estratégias para que a arte/educação não seja apenas um processo de imitação, como era na escola do passado, mas antes, que seja um processo continuo de integração entre apreensão de conhecimento e percepção critica dos fatos.
Um dos problemas consiste em que a escola até tenta aderir e se adaptar aos recursos que facilitam a inclusão diversificada nas múltiplas leituras de mundo, porém, na maioria das vezes ela não consegue acompanhar as incessantes mudanças no cenário sociocultural do mundo contemporâneo e também as mudanças nas formas de expressões artísticas, com isso, seus recursos tornam-se escassos e defasados, sem que a mesma consiga fazer um link entre o passado e o presente, porém sem que o futuro seja corrompido com supremacias, hegemonias ou elitismos.
O fato é que o ensino das artes tem sofrido significativas mudanças, e tanto a escola quanto o professor precisa articular sua metodologia de modo consciente, que englobe todos os sentidos humanos, incluindo a percepção, o pensamento, o movimento, a expressão e que a partir da exploração destes elementos, seja possível construir um panorama da realidade do aluno, pois é baseado em suas vivências que ele processa suas experiências estéticas.
Espera-se que o professor tanto seja capaz de articular teoria e conhecimento, quanto seja capaz de perceber claramente as características individuais do aluno envolvido no processo pedagógico. É importante também que a metodologia contemple a vivência de atividades, possibilitando experimentar materiais e suportes diversificados e que, principalmente, os conteúdos de arte estejam em harmonia com os reais interesses do aluno e da realidade escolar.
Os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula devem obedecer a este critério. Porém, na prática, existe uma deficiência muito forte em adequar a metodologia a realidade do aluno. Talvez porque as escolas ainda mantenham seus currículos muito engessados às concepções educacionais do passado, preso a tradições e hegemonias, ou talvez porque ainda haja muita dificuldade em se lidar com a diversidade numa sala de aula e precisar adequar-se a tantas realidades e necessidades diferentes faz com que algumas instituições tenham medo de mudar e com isso, o aluno é que tem que adequar-se a sua metodologia e a um modo talvez defasado de ensinar arte, prejudicando totalmente a formaçao de um ser humano politizado, reflexivo e socialmente produtivo.
Os problemas metodológicos no ensino de artes visuais são oriundos de vários fatores. Uma metodologia adequada a cada aluno e situação é aquela que estimula a autonomia, todavia, algumas instituições e educadores ainda são resistentes a este tipo de educação que coloca o aluno como senhor de suas próprias idéias. A resistência reside em limitar o aluno a assimilar somente teorias, conceitos e valores preestabelecidos, sem que haja uma conexão direta com a realidade do aluno ou sem que este ao menos perceba que pode ser sujeito de sua própria aprendizagem.
Os problemas pedagógicos no ensino de artes visuais também devem ser considerados. Isto implica dizer que de nada adianta seguir um currículo rígido, se ele não pode ser reavaliado quando necessário, se as instituições não são flexíveis a mudanças. Deve-se ter em mente que as práticas pedagógicas constituem-se em ações conjuntas, que não são acontecimentos isolados. Desta forma, ao organizar o currículo e colocá-lo em prática, é fundamental considerar as relações sociais, pois são estas que norteiam os efeitos que se pretende causar e os objetivos que se pretende atingir.
O pouco investimento na área da arte/educação por parte do Sistema também evolui para um quadro negativo, pois se não há investimento, não há capacitação, e se não há capacitação não existem professores qualificados o suficiente para suprir a demanda de nossas escolas. E se não existem professores suficientemente qualificados, a arte/educação não pode passar de entretenimento.
É importante conhecer a fundo as tendências pedagógicas que influenciaram o ensino aprendizagem da arte ao longo do tempo, mas manter-se preso a elas é ignorar tudo o que conseguimos alcançar, depois de tanta repressão a livre expressão. Mas, infelizmente é exatamente isso o que acontece. Muitas instituições de ensino sobrevivem sob a influencia de tendências tradicionalistas.
Isto tudo é conseqüência dentre tantas outras coisas de uma má formação dos professores, pois não tiveram a preciosa oportunidade de conhecer as correntes pedagógicas e não conseguiram se perceber como sujeitos ativos na transformação da sociedade, o que acaba por se refletir em sua prática pedagógica. Uma árvore infrutífera que cresce e finca profundas raízes.
Conclui-se desta forma que, resistências a mudanças existem, sempre existiram e talvez continuem a existir, pois sempre haverá quem seja contrário ao processo evolutivo do ser humano e a livre expressão do pensamento, mas que o principal é apostar na produção de um projeto político-pedagógico que abranja claramente tanto as concepções de mundo, de sociedade, de homem, quanto da escola em sua universalidade. O que não podemos é admitir que haja um retrocesso no estado do ensino das artes visuais e que o importante é que continuemos a trabalhar para que o espírito reflexivo continue crescendo no seio da sociedade.

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